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Mulheres relatam outros casos de assédios no metrô de Salvador: 'Me senti um lixo'

Mulheres relatam outros casos de assédios no metrô de Salvador: 'Me senti um lixo'

A situação da jovem Aila Brito, de 20 anos, que foi filmada por um segurança dentro do banheiro da CCR na noite desta segunda-feira (17), não foi o único caso de assédio que já aconteceu em uma estação de metrô de Salvador. Relatos de casos similares mostram uma sensação de insegurança para mulheres que precisam usar o sistema de transporte.

Aila, que sofreu a situação por volta das 21h20, na estação do Bom Juá enquanto voltava da faculdade, relatou ao CORREIO que prestou queixa na 1ª Delegacia, localizada nos Barris, poucas horas depois após a importunação. Durante o depoimento, não ocorreu conversa entre ela e o segurança, mas antes, ainda na estação, o funcionário alegou que iria apagar a filmagem e que era para ela esquecer a situação, porque ele "tinha muito tempo de casa [trabalho na empresa]". De acordo com a vítima, ela viu o funcionário de 28 anos, pai de família, apagando o vídeo na sua frente, enquanto se mostrava arrependido.

"Hoje eles [CCR Metrô] me ligaram, pediram desculpas pela situação. O colaborador foi afastado e estão investigando para tomar as medidas cabíveis. Não pretendo usar nunca mais [o banheiro do metrô]", disse.

A Polícia Civil informou que um inquérito foi instaurado para apurar uma denúncia de assédio, registrada na Central de Flagrantes. "Ele responderá pelo Artigo 216-B do Código Penal Brasileiro, que trata sobre produzir, fotografar, filmar ou registrar, por qualquer meio, conteúdo com cena de nudez ou ato sexual ou libidinoso de caráter íntimo e privado sem autorização dos participantes"

Além da universitária, outras mulheres também já foram vítimas pelas estações que cortam a capital baiana. Era horário de pico, quando Ludmila Bazílio, na época com 24 anos, tomou um susto ao receber um tapa nas partes íntimas ao subir as escadas do Acesso Norte. Segundo ela, o homem, que aparentava ser idoso, alegou que outras pessoas estavam passando rapidamente e 'levaram a mão dele', causando o tapa. "Só que aí depois vieram um rapaz e uma senhora que chegaram do lado e falaram assim: 'ele bateu de propósito porque ele veio ensaiando o caminho inteiro atrás de você'", relembra.

A situação foi impactante, mas Ludmila não abaixou a cabeça. No final da escada, ela gritou para tentar intimidar o assediador. "Quando ele chegou lá em cima eu comecei a gritar: 'você gosta de bater na bunda dos outros, né? Eu espero que você não repita isso nunca mais'. Chamei a atenção de todo mundo do metrô", conta. "Me senti um lixo, invadida, desrespeitada. Só que o medo disso acontecer com outras pessoas que não poderiam se defender, desta vez falou mais alto", completa.

Se para Ludmilla o tapa foi constrangedor, a perseguição que Mariana Oliveira, 23, sofreu com a amiga, virou caso de preocupação extrema. Ela voltava da praia e pegou o metrô na Estação da Lapa, em direção ao Imbuí. Dentro do vagão, as duas perceberam que um homem estava encarando-as constantemente, chegando a incomodar. Com medo até de ser um assalto, Mariana desceu na Estação Bonocô com a amiga, mas o assediador teve a mesma atitude.

"Quando estávamos chegando na estação Acesso Norte, ele começou a se esfregar. Reclamei, e ele usou a desculpa de que era porque o vagão estava cheio e aquela parte dos trilhos balançava mesmo", comenta.

Depois de descer em outra estação, ela saiu em direção ao segurança que estava no local para explicar a perseguição e o assédio. O funcionário alegou que as duas não poderiam acusar uma pessoa inocente se não tivessem a certeza "para não comprometer a empresa". A perseguição só acabou quando Mariana ligou para o primo buscá-la na Estação Imbuí. "O rapaz ficou encostado esperando que eu saísse, os seguranças viram e não fizeram nada. Quando o rapaz viu que eu iria ser acompanhada, deu meia volta, entrou novamente no metrô".

Nas passarelas que são caminhos para a entrada da estação, mulheres também sofrem com o descaso da falta de segurança. e acolhimento. Além do medo de assalto, Myla Katia, 32, também precisou correr de jovens que, segundo ela, têm o hábito de cometer assédios.

"Voltando do trabalho, um menor infrator passou a mão na minha bunda. Busquei ajuda, mas só fui informada que eles [seguranças do metrô] não poderiam fazer nada. Pegaram o meu nome só para registrar o ocorrido", relatou a consultora óptica. Ela relatou a situação em uma publicação no Instagram.

Além desses casos, há também relatos de que homens se masturbam dentro dos vagões e que não são pegos. Essa situação foi observada por uma mulher que preferiu não ser identificada por medo. Ela, que tem 45 anos, é cuidadora de idosos e mãe de uma jovem de 15, estava neste dia indo ao shopping com a vizinha, quando viu um homem se tocando.

"Foi uma cena de terror, porque ele não conseguiu se segurar e acabou soltando tudo lá dentro do vagão vazio, como se as mulheres tivessem que ver aquela nojeira. Me senti invadida, mas eu não pude fazer nada porque ele tinha cara de que tinha problemas psicológicos, poderia me seguir", relatou.

O que diz a lei?
Para a advogada criminalista Marina Gardelio, esse momento, para as mulheres, acaba sendo de revolta e desespero. Muitas, inclusive, não conseguem ter uma reação completa ao se depararem com um assédio, mesmo que seja necessário agir rapidamente "para que aquela situação cesse, para constituir a prova do fato e para identificar o assediador".

Para a co-fundadora e ex-presidente do Centro de Ciências Criminais Prof. Raul Chaves, quando essas situações ocorrem em locais públicos, como metrô, ônibus, centros comerciais e nas ruas, a vítima deve tentar gravar e sinalizar para as pessoas ao redor. "Tanto para pedir ajuda, quanto para que elas testemunhem o ocorrido. Logo depois, deve solicitar nome, endereço e telefone das pessoas que presenciaram o fato. São os primeiros passos para fazer cessar a violência e constituir provas", acrescenta.

É essencial que a vítima registre uma ocorrência ou, se possível, denuncie por meio do 180, Central de Atendimento à Mulher. No caso de Aila, em que o funcionário trabalha na CCR Metrô, protocolar reclamações no RH e no canal de ouvidoria da empresa também é válido.

A advogada ainda reforça que o decreto nº 35.804 de 05 de agosto de 2022, mais conhecida como 'Lei do Assédio', pode ser incluída como exposição ao constrangimento nesses casos e deve ser aplicada para os ambientes públicos de uma forma geral, "que estipula sanções para indivíduos que cometam assédio contra as mulheres ou que as exponham publicamente ao constrangimento (...) se incluem os transportes públicos".

Resposta da CCR Metrô Bahia
Até a publicação desta matéria, a empresa não retornou aos questionamentos enviados. Este espaço está aberto para respostas.

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