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Reintegração de posse de edifício arrendado por Eike Batista termina em confusão

Reintegração de posse de edifício arrendado por Eike Batista termina em confusão

Invasores colocaram fogo no segundo andar do prédio e houve confronto com PMs. Pelo menos três pessoas foram detidas, entre elas um policia
RIO - A ação de reintegração de posse no prédio localizado na Avenida Rui da Barbosa, no Flamengo, terminou em tumulto e incêndio na manhã desta terça-feira. Parte dos invasores colocou fogo em papelões no segundo andar e em outros pontos do edifício. Houve confronto entre os invadores e policiais militares. Pelo menos três pessoas foram detidas, entre elas um policial do Batalhão de Grandes Eventos, acusado de jogar spray de pimenta no rosto de um idoso e de um bebê. O clima só acalmou após a saída de todos os ocupantes do prédio, por volta das 10h40m. Os invasores estão reunidos numa praça perto do edifício e estão recebendo água de funcionários da prefeitura.

Durante a operação de reintegração de posse, o administrador de empresas Marcelo Oliveira, de 57 anos, provocou a ira de ocupantes do prédio e de pessoas simpatizantes da causa dos invasores. Passeando com a cadela chamada Linda, da raça Golden Retriever, o administrador, ao se aproximar de um grupo de PMs, que atuavam na desocupação, chamou o invasores de vagabundos e disse a eles gritando que, “deveriam procurar um trabalho”. Imediatamente, um intenso bate-boca teve início. Um homem, que se identificou como André Abreu e disse ser professor da rede municipal de ensino, chamou Marcelo de burgues, safado, entre outras coisas. Outros simpatizantes também viram o administrador fazendo insultos contra os invasores. Um outro homem, que segurava cartazes com os dizeres: “Pedir voto vocês sabem, moradia nada” e "Corrupção, o maior vandalismo", jogou o material sobre Marcelo. Policiais chegaram a cercar o administrador de empresas para escoltá-lo com segurança até um local distante dali.

Antes do tumulto, oficiais de Justiça estiveram no prédio e, junto com defensores públicos, conversaram com os invasores. Parte do grupo concordou em deixar o local, mas se recusou a ir para uma abrigo em Santa Cruz. Segundo eles, a prefeitura ofereceu 130 vagas, número insuficiente para os mais de 200 invasores. De acordo com a Secretaria de Desenvolvimento Social, no entanto, foram oferecidos três abrigos aos ocupantes. Dois só para mulheres e crianças (50 vagas e 20 vagas), outro para homens e mulheres (60 vagas). As vagas ficam em três dos 29 abrigos do município. Os ocupantes não aceitaram nenhuma das opções. Na quarta-feira haverá uma reunião na Secretaria Estadual de Assistência Social e Direitos Humanos para tentar viabilizar moradia para os sem-teto.
Para a operação, foram deslocados 15 veículos da Polícia Militar, um helicóptero e motociclistas da PM. O edifício Hilton Santos, que está arrendado pelo empresário Eike Batista, estava ocupado desde a semana passada.

Devido à ação de desocupação, a Avenida Rui Barbosa foi interditada na altura da Enseada de Botafogo. A via só foi liberada por volta de 12h. Durante o fechamento o trânsito foi desviado pelo Aterro do Flamengo e pela Praça Nicarágua. O trânsito ficou complicado na Praia de Botafogo, na altura da Avenida Oswaldo Cruz; na Rua Senador Vergueiro, entre a Rua Desembargador Sady Gusmão e a Travessa dos Tamoios; na Avenida Oswaldo Cruz, na chegada à Enseada de Botafogo; e na

Rua Pinheiro Machado, no sentido Túnel Santa Bárbara, entre as ruas Farani e Presidente Carlos de Campos.
Durante a noite desta segunda-feira, houve tumulto no local. Pelo menos três pessoas passaram mal. Uma delas, segundo os ocupantes, foi Fernanda da Silva Pessoa, de 34 anos, que estava grávida de seis meses e teve o filho dentro de um dos banheiros do prédio. Ela foi encaminhada, junto com o bebê, para a Unidade de Pronto Atendimento (UPA) de Botafogo. E, depois, levada para o Hospital municipal Miguel Couto.

— A criança caiu dentro do vaso sanitário. A mulher ficou apreensiva, e isso fez com que ela passasse mal. Ela teve hemorragia — disse a irmã Andreia Pessoa.

Segundo informações da Secretaria Municipal de Saúde, é estável o estado de saúde da mulher e seu bebê, que precisou ir para a UTI neonatal, onde está sendo monitorado 24h por dia, pois chegou à unidade muito fraco. Ele nasceu na rua, com apenas 34 semanas de gravidez. Os dois passam bem.

Pela manhã, um homem saiu do edifício com o pé ferido. Não há detalhes de como ele se machucou. Ele foi atendido pelo Corpo de Bombeiros, que está no local.
Além de Fernanda, segundo testemunhas, outras pessoas passaram mal. Uma teve crise epilética, e outra, na correria, se feriu na cabeça.

Também ocupante do imóvel, Célia Regina Cesário afirmou que eles não vão resistir à ação de reintegração de posse.

— Estamos muito apreensivos. Mas não vamos reagir. Aqui não tem bandido, e a gente vai sair — disse ela. — Depois, nós vamos para a rua. Acampar em qualquer lugar que estiver vazio, em qualquer marquise. A luta pela moradia vai continuar.

Agentes da Secretaria municipal de Assistência Social chegaram há pouco com água e alimento para as cerca de 80 crianças que estao no prédio.
De acordo com o coordenador do Núcleo de Terras e Habitação da Defensoria Pública estadual, João Helvécio, ainda está sendo aguardada uma resposta judicial sobre o agravo de instrumento interposto contra a decisão da 36ª Vara Cível, que concedeu a liminar de reintegração de posse do prédio. Segundo Helvécio, um pedido feito pelo Instituto de Terra e Habitação do estado, que também está disposto a intermediar a a reintegração, pediu um prazo de 30 dias para que um mapeamento seja feito sobre as famílias invasoras. Nesse período, os invasores permaneceriam no edifício:

— A reintegração de posse como está sendo feita exageradamente rápida, não tem o menor sentido, porque o prédio não vão ter nenhum proveito econômico para quem quer que seja. Queremos sensibilizar o estado e o município para que busquem soluções razoáveis. Não acho esse prazo de 30 dias, pedido pelo instituto exagerado. Fazer a reintegração nesta terça-feira significa impedir um cadastro dessas famílias para enviar ao governo.
Nesta segunda-feira, a Justiça negou o pedido de suspensão da liminar da 36ª Vara Cível. O pedido foi feito na última sexta-feira pela Defensoria Pública.

Ocupado inicialmente por 40 pessoas na madrugada do dia 7 deste mês, o Edifício Hilton Santos teve a reintegração de posse determinada pela Justiça na quinta-feira passada.

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