Impactado pelo fechamento da Ford, o Polo Industrial de Camaçari tende a registrar perda financeira este ano. A montadora era o principal empreendimento do setor automotivo, quinto setor da nossa atividade industrial. Mas no médio e longo prazo, a tendência é de uma nova modernização. A avaliação foi feito para o bahia.ba pelo gerente de Estudos Técnicos da Federação das Indústrias do Estado da Bahia (Fieb), Ricardo Kawabe. “O Polo passa por um período vital de transformação”, disse.
Atualmente, o Polo Industrial de Camaçari reúne 90 empresas, faturando US$ 15 bilhões anuais em 2019 – ano anterior à pandemia – e gerando cerca de 45 mil empregos. Kawabe destaca que o polo vive uma transição em que tem desafios internacionais – como no caso da Ford, pela perda de interesse em produzir carros de passeio que eram feitos na planta baiana – e nacionais.
“O Brasil não é um país desenvolvido mas tem um perfil em que o peso da indústria é semelhante ao dos grandes países”, alertou. Kawabe explica que as maiores potências têm serviços como Netflix e Spotify – usados mundialmente e que revertem recursos para os países de sua matriz, possibilitando que suas economias transfiram produção industrial para a China, com custos de produção menor. Já a economia brasileira não tem estes ativos e prioriza sua industrialização lá fora tanto quanto. O gerente da Fieb cita o exemplo dos fertilizantes. “O Brasil é o país do agro, mas importa a maior parte dos fertilizantes”, frisa.
Para ele, a pandemia tem gerado ponderações quanto à concentração industrial na China que podem impactar no Polo Industrial de Camaçari, caso o país mude seu posicionamento. “Essa transformação não vai ser feita por uma pessoa ou uma empresa. É preciso ma politica industrial nacional”, pondera. Este novo olhar poderia abrir mais espaços para a Fábrica de Fertilizantes Nitrogenados (Fafen), antiga subsidiária da Petrobrás que voltou a operar este ano, agora sob a gestão do grupo Proquigel.
Braskem
Localmente, o gerente de Estudos técnicos vê boas perspectivas em uma eventual mudança no controle acionário da Braskem. Ainda que extraoficiais, informações do mercado dão conta de que o controlador atual, o grupo Novonor (antigo Odebrecht), esteja próximo de transferir sua participação. O movimento deve ser seguido pela Petrobrás, o segundo acionista de maior importância. Para Kawabe, essa venda pode reconfiguar a empresa da mesma forma que a antiga Copene foi remodelada quando de sua venda, em 2001, dando lugar a Braskem.
“O raciocínio é o mesmo que eu fiz para a Refinaria Landulpho Alves (Rlam). Se um investidor está disposto a pagar bilhões por uma empresa ele quer que ela prospere e, para isso, terá que modernizá-la”, avalia Kawabe. O representante da Fieb não descarta a possibilidade de um mesmo investidor adquirir os papeis da Novonor e da Petrobras e deste novo controlador ser o fundo árabe Mubadala, comprador da Rlam (a transação ainda depende de tramites legais). “Faz sentido uma empresa controlar o refino do petróleo e a petroquímica”, opina. “É sempre bom um controlador com capacidade para investir e modernizar.”