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O investimento na cultura do município tem sido uma prioridade da Prefeitura de Camaçari que, através da Secretaria da Cultura (Secult) tem realizado uma série de ações no setor. Em 2023, diversas iniciativas foram promovidas, como eventos artísticos e oferta de cursos, com destaque para o lançamento de editais, a entrega de equipamento cultural e a requalificação de espaços.

Com a proposta de ofertar um ambiente mais acolhedor para alunos, pais, servidores e todos que frequentam os diversos ambientes da Cidade do Saber – considerado um dos maiores centros de inclusão social da América Latina –, foram iniciadas em novembro as obras no complexo. As intervenções, realizadas em uma área total construída de 10.534,33 metros quadrados (m²), atenderão os serviços com adequação, recuperação e requalificação dos espaços.

Os munícipes receberam em outubro o novo Arquivo Histórico de Camaçari, órgão de custódia dos documentos da Administração Pública Municipal, que desempenha um papel fundamental na organização e preservação dos registros e promove o acesso e o uso da informação à população através da pesquisa, tendo como primazia a preservação da história e a memória do município, que passou a integrar o Centro Antigo da cidade.

O ano de 2023 representou um marco para a história de Camaçari, pois, pela primeira vez, o município recebeu a passagem do fogo simbólico em celebração ao bicentenário da Independência do Brasil na Bahia, integrando o roteiro do Recôncavo Norte. O evento, realizado em julho, reuniu atletas, atrações culturais e ato cívico, sendo um reconhecimento à participação das pessoas que viviam nas batalhas e lutaram contra a invasão da Coroa portuguesa e pela libertação do povo brasileiro.

Editais – O lançamento dos comunicados são uma das prioridades da Secult para o fomento das iniciativas artísticas no município e valorização dos agentes culturais. Em maio, foi aberta a 2ª edição do edital de credenciamento Cidade Cultural, que possibilita a artistas e grupos estarem aptos a realizar apresentações em equipamentos e eventos da prefeitura.

Em agosto, foi lançada a 2ª edição do edital Evandro Amaro, voltado para fanfarras, bandas marciais, filarmônicas e orquestras com o desenvolvimento de educação musical nas escolas municipais, equipamentos culturais e associações. A iniciativa selecionou dez projetos, totalizando R$ 1 milhão em investimentos.

Até novembro, estavam abertas as inscrições para o edital Oficineiros, credenciamento para formação de um banco de profissionais com experiência técnica na área cultural para oferta de capacitação em atividades culturais como instrutores.

No mesmo mês, foi iniciado o lançamento dos certames com aplicação dos recursos da Lei Paulo Gustavo (LPG) no município: edital de fomento Camaçari Audiovisual e a 3ª Edição do Prêmio Mestras e Mestres da Cultura de Camaçari. Em breve, ainda serão abertos o Camaçari Criativa e o Bolsa Cultura.

Eventos culturais – Iniciando as ações de 2023, no dia 6 de janeiro foi realizado, com apoio da Secult, o Terno de Reis, manifestação tradicional na localidade de Barra do Pojuca. No começo do ano também teve destaque a retomada da realização das lavagens na costa, que reuniu mais de 30 atrações culturais em Barra do Pojuca, Monte Gordo, Jauá e Arembepe, além da participação de alunos dos equipamentos da Secult.

De volta ao calendário de eventos, a Feira Pôr do Sol foi promovida em janeiro em Guarajuba e Arembepe, e, entre os atrativos, contou com apresentações artísticas promovidas pela secretaria. Em 2 de fevereiro, aconteceu o cortejo ao Dia de Iemanjá; em março, o Sarau Cultural comemorando o Dia Nacional do Poeta; e em abril, foi realizado, em Vila de Abrantes, o espetáculo A Paixão de Cristo, momento especial que reuniu centenas de pessoas em celebração à Semana Santa.

Durante os festejos juninos, a tradicional Vila da Cultura contou com ampla programação no Espaço Camaçari 2000, com 20 atrações musicais, além do Festival de Quadrilhas Juninas, exposição e espaços especiais. Em setembro, os desfiles cívicos – em comemoração à Independência do Brasil e aos 265 anos de emancipação política de Camaçari, realizados nos dias 7, 16, 24 e 28 – contaram com ampla participação da Secult, através da animação de oito bandas marciais e fanfarras, e 25 grupos culturais, além de alunos dos equipamentos geridos pela pasta.

Ao longo de 2023, o Teatro Cidade do Saber (TCS) foi palco para 76 eventos culturais, com destaque para os concertos das orquestras Caraípa e Juvenil de Camaçari (OJUCA); a 16ª edição do Festival Nacional de Dança – Ballace, evento que se consolida como uma das mais importantes mostras competitivas de dança do país; e espetáculos de comédia e shows musicais. Além disso, o espaço recebeu duas exposições artísticas, 36 atividades institucionais e 27 particulares. Durante o ano, o equipamento contou com 68.240 espectadores.

Já o Teatro Alberto Martins (TAM) atendeu 99 solicitações de eventos, como ações institucionais e educacionais, além de 17 atividades artísticas. Entre os destaques estão aulões de zumba e os eventos Alberto ao Reggae e Alberto InCena, todos promovidos pela Secult, e ainda espetáculos, como dos comediantes João Pimenta e Tiago Souza, e o show Covers de Sábado à Noite. Ao todo, foram mais de 5.851 espectadores.

Cursos e oficinas – Entre as ações contínuas da Secult está a oferta de cursos e oficinas culturais e esportivas em diferentes equipamentos. Este ano, foram atendidos 5.202 alunos na Cidade do Saber, Pracinhas da Cultura, Barracão Cultural Idalva Alves de Souza, em Arembepe, e centros culturais Vila de Abrantes e Barra do Pojuca. Neste último, além dos cursos ofertados pela pasta, 60 crianças e adolescentes foram contemplados através do projeto Tocar & Encantar, com aulas de violão e flauta doce.

Em 2023, a secretaria adotou como tema anual: "Juntos por uma educação cultural, inclusiva e plural". A temática foi trabalhada pelos professores nas aulas e norteou as demais ações da Secult.

Subprogramas – Gerido através do subprograma Camaçari nos Trilhos da Memória, o Museu de Camassary já recebeu 3.200 visitas espontâneas, além das visitas de grupos, sobretudo de instituições escolares. O equipamento tem divulgado a história e o patrimônio cultural do município, além de abrigar exposições como Mulheres - Histórias Cotidianas, Camassary Tradições Indígenas e 1 Ano de Muita História.

Por meio do subprograma Camaçari Tem Cena, inúmeras ações foram promovidas, como os projetos Cine em Cena, Das Telas às Imagens - Identidade Cultural Por Cada Um de Nós, Café Concerto, Sexta da Música e Vozes Negras, além de uma programação especial em celebração ao Abril da Dança, e oficina de xilogravura.

Através do subprograma Vamos Ler Camaçari, a Biblioteca Pública Municipal Jorge Amado foi reaberta em novo local. O equipamento, anteriormente situado no complexo Cidade do Saber, passou a funcionar na Praça Abrantes, onde antes abrigava a Biblioteca Infantojuvenil, local que recebeu obras de requalificação para ofertar melhor serviço ao público. Também foi promovida a Semana Monteiro Lobato, o evento BA x VI da Literatura Infantil, celebração ao Dia do Folclore, atividades da Semana das Crianças, e o Projeto Conte Sua História.

Por meio do subprograma Camaçari Nova Cultura, foi realizada a reformulação do Portal da Secult, que ganhou novo layout (disposição dos elementos visuais na página) e mais funcionalidades, aproximando ainda mais a população dos serviços da pasta, melhorando a acessibilidade e dando mais transparência às informações. O Mapa Cultural de Camaçari também foi remodelado, tendo novo layout mais intuitivo para facilitar o acesso e a usabilidade.

O Laboratório de Tecnologia de Camaçari (LABTEC) realizou oficina de Robótica com Lego, e minicursos de Modelagem e Impressão 3D, totalizando 55 alunos, além de promover palestra sobre energias renováveis e exposição de projetos maker, atingindo 2.710 pessoas. Em 2023, o Museu de Ciência e Tecnologia UNICA - Universo da Criança e do Adolescente, recebeu 2.413 visitantes, o que significa um aumento de 31% em relação a 2022.

Demais ações – Em outubro de 2023, foi realizada a VI Conferência Municipal de Cultura de Camaçari, que teve como tema: "Democracia e Direito à Cultura em Camaçari" e reuniu agentes culturais e cidadãos interessados em discutir a temática, além de eleger os delegados que representaram o município nas conferências Territorial e Estadual de Cultura da Bahia.

Para fomentar a prática de atividades culturais, a Secult realizou a entrega de kits de fardamento para alunos de balé clássico, balé que dança, futsal e violino desenvolvidos entre a Pracinhas da Cultura e os centros culturais Barra do Pojuca e Vila de Abrantes.

Promovendo a descentralização das ações, o Projeto Secult Itinerante levou serviços da pasta para Vila de Abrantes, Barra do Pojuca e Arembepe. Em 2023, a secretaria foi destaque de boas práticas culturais no Território Metropolitano de Salvador (TMS). O município pôde apresentar os indicadores positivos durante o Encontro de Dirigentes Municipais de Cultura do TMS, realizado na cidade de São Francisco do Conde, em agosto.

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A ministra da Cultura do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Margareth Menezes, convidou a neta do ex-guerrilheiro Carlos Marighella, a vereadora de Salvador, atriz e produtora cultural Maria Marighella, para o comando da Fundação Nacional de Artes (Funarte).

O anúncio foi feito na noite de segunda-feira (2), quando Margareth Menezes assumiu o cargo. À frente do ministério, ela terá o desafio de liderar a pasta que foi extinta no governo Bolsonaro.

Nesta terça-feira (3), Maria Marighella disse que vai ter a missão de retomar a reconstrução da Política Nacional das Artes, que segundo ela, foi interrompida em 2016, com o fim do governo de Dilma.

"Assumo com muita honra a missão que me foi confiada pela ministra Margareth Menezes - a quem celebro e agradeço. É uma grande responsabilidade ser a primeira mulher nordestina a ocupar esta Presidência", disse a nova representante da Funarte.
"Refundaremos também a Funarte com a força da Cultura de todo Brasil. À reconstrução do Min, à refundação do Brasil".

Maria Marighella foi eleita vereadora da capital baiana pelo Partido dos Trabalhadores (PT) em novembro de 2020, com 4.837 votos. Sua candidatura foi fundada junto à Manifesta Coletiva, movimentação cidadã de ocupação da política institucional da qual faz parte e através da qual defende “uma outra cultura política em Salvador”.

Nascida em Salvador, em 16 de janeiro de 1976, é atriz graduada pela Universidade Federal da Bahia (Ufba). Filiou-se ao PT em fevereiro de 2020, após uma longa trajetória em governos petistas, nos âmbitos federal e estadual, como gestora de políticas públicas para a cultura.

Foi coordenadora de Teatro da Fundação Cultural do Estado da Bahia (Funceb) e da Fundação Nacional de Artes (Funarte), além de Diretora de Espaços Culturais da Secretaria de Cultura do Estado da Bahia (Secult-BA), tendo acumulado mais de dez anos de experiência na gestão de políticas culturais e contribuído com diversas instituições do país.

Em sua passagem mais recente pela Secretaria da Cultura do Estado da Bahia, atuou na construção e aprovação da Lei Aldir Blanc - que, dentre outras medidas, possibilitou o auxílio emergencial para trabalhadoras e trabalhadores da Cultura durante a pandemia da Covid-19.

Feminista e antirracista, Maria Marighella exerceu o primeiro mandato na Câmara Municipal de Salvador com a pauta da cultura na centralidade de um projeto de desenvolvimento para a capital baiana que tenha como meta a justiça social e o bem-estar de todas as pessoas na cidade.

Ativista da cultura, sendo também professora e produtora teatral, Maria Marighella traz em seu nome e na sua história a luta por democracia no Brasil que tem em seu avô, Carlos Marighella, um de seus maiores símbolos.

Quando Maria nasceu, ainda na época da ditadura, seu pai, Carlos Augusto Marighella, se encontrava preso por causa de uma operação comandada pelo coronel Brilhante Ustra, que encarcerou dezenas de militantes do Partido Comunista Brasileiro (PCB) na Bahia.

Em seu primeiro mandato na Câmara Municipal de Salvador, Maria Marighella foi indicada pela Presidência da Câmara para assumir a gestão do Centro de Cultura Vereador Manuel Querino, além de ter sido eleita membro das comissões permanentes de Cultura e de Defesa dos Direitos da Mulher.

Cerimônia de Margareth Menezes

A cerimônia de Margareth no Museu da República, em Brasília, e contou com a participação da primeira-dama, Janja da Silva, uma das defensoras do nome para o cargo.

No discurso, Margareth afirmou que "nunca mais" a pasta deixará de ser ministério. “Como aceitar que, de repente, nosso Ministério da Cultura, dessa profunda riqueza, tenha desaparecido por duas vezes do nosso horizonte? Nunca mais.”

“Nós merecemos o nosso ministério. O Brasil tem uma das mais ricas, potentes e respeitadas forças de produção cultural do mundo. Que o nosso Minc nunca mais desapareça”, afirmou.
Durante o discurso, a ministra lembrou das dificuldades enfrentadas pelo setor cultural durante a pandemia e os prejuízos causados aos artistas que tiveram que se manter reclusos.

"Durante a pandemia os artistas brasileiros sofreram como nunca. O prejuízo econômico do setor artístico cultural foi de aproximadamente R$ 63 bilhões, segundo pesquisas recentes. Sem Ministério, sem políticas culturais e sem recursos. Muitos dos mais criativos e sensíveis brasileiros tiveram que deixar os palcos, as telas, as bibliotecas, os ateliês e buscar outras atividades para poder sobreviver. Com isso, o próprio Brasil ficou mais calado, apequenado, triste."

"Todos ganham com o desenvolvimento cultural, como sabem, educação sem cultura é ensino, segurança sem cultura é repressão, saúde sem cultura é remediação, desenvolvimento social sem cultura, é assistencialismo", completou a ministra.

A cerimônia teve diversas apresentações artísticas, inclusive da ministra, que cantou a música "Faraó".

O que faz o ministério
Entre as atribuições do Ministério da Cultura estão:

política nacional de cultura e a proteção e promoção da diversidade cultural.
proteção do patrimônio histórico, artístico e cultural;
direitos autorais;
assistência nas ações de regularização fundiária, para garantir a preservação da identidade cultural dos remanescentes das comunidades dos quilombos;
desenvolvimento e implementação de políticas e ações de acessibilidade cultural;
formulação e implementação de políticas, programas e ações para o desenvolvimento do setor de museus.

Em maio deste ano, Lula prometeu devolver à Cultura status de ministério, pasta que foi dissolvida na gestão de Jair Bolsonaro a uma secretaria especial do Ministério do Turismo. Durante o governo de Bolsonaro, já foram responsáveis pelo setor os atores Mario Frias e Regina Duarte.

A intenção de Lula é dar à nova pasta uma estrutura mais robusta do que teve em governos anteriores.

O petista também quer implementar o Sistema Nacional de Cultura, com descentralização dos recursos. Ele defende ainda potencializar processos criativos e fortalecer a memória e diversidade cultural, ao valorizar a arte e a cultura popular e periférica. E garantir a liberdade artístico-cultural.

Quem é a ministra
Margareth é uma artista baiana, natural de Salvador (BA), e considerada por especialistas da cultura um símbolo da potência negra e feminina do universo musical afro-pop-brasileiro.

Com mais de três décadas de carreira, Maga, como é conhecida, tem mais de 10 álbuns lançados, quatro indicações ao Grammy, fez mais de 20 turnês internacionais e é uma das principais expoentes da música baiana no mundo. Relembre a trajetória artística da ministra.

Após 35 anos de carreira musical, a cantora foi nomeada para integrar o grupo de cultura da equipe de transição de Lula.

Publicado em Política

O Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) decidiu, nesta quinta-feira (9), declarar o forró como patrimônio imaterial brasileiro por unanimidade. A definição ocorreu em reunião extraordinária do Conselho Consultivo do Patrimônio Cultural da entidade, o qual também considerou a expressão musical como supergênero. O processo foi aberto em 2011.

De acordo com o órgão, o forró é considerado um supergênero por agrupar ritmos e expressões musicais como o baião, o xote, o xaxado, o chamego, o miudinho, a quadrilha e o arrasta-pé.

"Manifesto-me plenamente favorável ao registro pelo Iphan das matrizes tradicionais do forró, munidas das formas de expressão com abrangência nacional", afirmou a relatora do processo na entidade, Maria Cecília Londres Fonseca.

O reconhecimento do forró como patrimônio imaterial do Brasil acontece a apenas quatro dias do Dia do Forró, celebrado anualmente no dia 13 de dezembro, dia do nascimento de Luiz Gonzaga, o Rei do Baião. Gonzagão nasceu em 13 de dezembro de 1912.

Em 2019, o Iphan iniciou uma pesquisa nos nove estados do Nordeste, além do Distrito Federal, Espírito Santo, Rio de Janeiro e São Paulo para entender e identificar como se expressa o supergênero musical.

Em seguida, também houve pesquisa nos estados de Minas Gerais e Espírito Santo, com a identificação de festivais sobre a expressão musical.

De acordo com a relatora do processo no conselho do Iphan, Maria Cecília Londres Fonseca, "a pesquisa aponta que a primeira menção à palavra forró foi localizada em um jornal amazonense de 1914, referiu-se a seringueiros cearenses possivelmente em suas atividades festivas".

Segundo a relatora, a pesquisa também identificou que o mais provável é que a palavra forró venha do termo forrobodó. O termo já era utilizado em dicionários desde o fim do século XIX como atendendo a práticas pejorativas.

Início do processo
O pedido de consideração de registro das matrizes tradicionais do forró foi encaminhado ao Iphan pela Associação Cultural Balaio Nordeste, de João Pessoa, na Paraíba. Após a solicitação, o processo foi aberto em 2011. Segundo Maria Cecília Londres Fonseca, esse pedido foi antecedido por intensa mobilização de diferentes atores.

No início, o forró ocorria como uma criação artística relativa ao universo do homem sertanejo. A primeira gravação com o termo "forró", conforme a pesquisa do Iphan, foi feita em 1937 pelos músicos Xerém e Manoel Queiroz, intitulada "Forró na roça".

Mas foi Luiz Gonzaga o principal divulgador e representante do forró em todo o País. No começo de tudo, o gênero musical era tocado com três instrumentos apenas: a sanfona, o zabumba e o triângulo. Em seguida, outros instrumentos foram acrescentados à musicalidade, como o pandeiro, a guitarra e a bateria.

 

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As inscrições para a 2ª Edição do Prêmio Mestras e Mestres da Cultura de Camaçari – 2021 encerram na próxima terça-feira (16/11). O procedimento deve ser feito até as 12h, através de formulário on-line disponível no portal da Cultura (https://secult.camacari.ba.gov.br). Após o envio, o proponente receberá por e-mail a comprovação automática da inscrição, que não implica na habilitação documental do candidato.

Para efetivar a inscrição, após fazer o procedimento via internet, o candidato deve comparecer na Comissão Especial de Análise da Secult (CEASC), localizada na Cidade do Saber, na rua do Telégrafo, s/nº, Centro, até as 16h do dia 16/11, munido dos documentos originais para a comprovação documental. A inscrição também pode ser feita de forma totalmente presencial, no mesmo setor.

Com investimento de R$ 140 mil, provenientes do Fundo Municipal de Cultura, o edital irá premiar 20 mestres e mestras residentes em Camaçari, que receberão o valor bruto de R$ 7 mil, do qual serão descontados todos os tributos pertinentes, de acordo com as alíquotas previstas na legislação vigente à época do pagamento.

Podem participar pessoas físicas, com idade a partir de 18 anos, que detenham notório conhecimento, longa e sólida permanência na atividade, e capacidade de transmissão de saberes, celebrações e/ou formas de expressões culturais tradicionais e que seja reconhecida por sua própria comunidade como herdeira dos saberes e fazeres da tradição popular em diversos segmentos, tais como artes da cura; lideranças de manifestações da cultura popular de caráter sagrado ou profano; ofícios, técnicas ou "modos de fazer"; ou outros segmentos culturais que, pelo poder da palavra, da imagem, da oralidade, da corporeidade e da vivência, dialoga, aprende, ensina e torna-se a memória viva e afetiva da tradição popular, transmitindo saberes e fazeres de geração a geração, garantindo a ancestralidade e identidade de sua comunidade.

Documentação

Cada candidato poderá inscrever apenas uma proposta e em somente uma categoria. Para tanto, são necessários os seguintes documentos: carta de apoio da comunidade; cópia do RG, CPF e comprovante de residência atualizado; certidão conjunta de débitos relativos a tributos federais e à dívida ativa da União; comprovante de situação cadastral no CPF; certidão negativa de débito municipal; número do PIS/PASEB/NIS ou NIT; cópia autenticada ou acompanhada da original do espelho do cartão do banco com o número da conta-corrente ou poupança, de titularidade do proponente, em que será depositado o prêmio; e cópias de materiais diversos, que ajudem os avaliadores a conhecerem melhor a atuação do Mestre, tais como cartazes, folders, fotografias ou material audiovisual (DVDs, CDs, fotografias, folhetos, matérias de jornal, sítios da internet, links do Mapa Virtual, YouTube, ou outros conteúdos).

O edital, acompanhado dos anexos, está disponível no portal da Cultural de Camaçari (http://secult.camacari.ba.gov.br/editais-2). Informações complementares podem ser obtidas através do e-mail O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo. ou pelo telefone (71) 3644-9824.


Fonte: Ascom/PMC

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Quem se inscreveu no Edital Emergencial de Cultura em Camaçari e ainda não apresentou as propostas do eixo 2 que prevê a execução na modalidade presencial, precisa o Núcleo de Produção do Teatro da Cidade do Saber para agendamento da execução do projeto. Através do subprograma Camaçari Tem Cena o processo de apresentação está sendo realizado.

A não realização da apresentação pode ocasionar implicações jurídicas cabíveis aos inscritos que não poderão participar dos próximos editais da Secretaria de Cultura (Secult). O Edital Emergencial foi lançado no ano passado pela pasta municipal, em parceria com o Conselho Municipal de Cultura.

O Edital foi estruturado em dois eixos principais, sendo o primeiro a produção de conteúdo audiovisual, e o segundo, propostas artísticas a partir de três integrantes a serem executadas de forma presencial no cenário pós-pandêmico. O eixo 2 inclui manifestações populares e tradicionais; performances cênicas ou formação técnico-cultural.

A iniciativa contemplou 300 propostas de artistas de Camaçari, tendo como objetivo fomentar o cenário cultural local e proporcionar a realização de atividades nas linguagens contempladas no Fundo Municipal de Cultura, tanto para o público adulto quanto infantil e infanto-juvenil. Segundo a Secult, “essas linguagens ou segmentos tiveram suas atividades diretamente impactadas pelas medidas de distanciamento social adotadas durante a pandemia”, diz nota

Os proponentes que estão com apresentações pendentes devem procurar o, através do e-mail O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo. ou dos telefones (71) 3644-9814 e 3644-9832, com atendimento das 8h30 às 17h.

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A costa de Camaçari irá ganhar o seu primeiro cineteatro. Nesta quarta-feira (6/10), a secretária da Cultura, Márcia Tude, realizou visita técnica ao terreno público onde será construído o equipamento, em Vila de Abrantes. A iniciativa atende ao princípio da pasta municipal de descentralizar e democratizar o acesso à cultura.

O cineteatro ficará localizado na rua João Araújo e contará com ampla infraestrutura. “Serão dois pavimentos, que incluirá foyer, camarins, espaço climatizado com poltronas e palco, copa, banheiros, almoxarifado, administração, além de salas para ensaios de música, teatro e dança, totalmente equipadas com piso apropriado, espelhos e barras”, destacou a titular da Secretaria da Cultura (Secult).

Na oportunidade, Márcia Tude aproveitou para também vistoriar a obra de requalificação que está sendo realizada na Biblioteca Comunitária Ler é Preciso. Também participou das visitas a equipe técnica da pasta, incluindo arquiteta e brigadista.

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O grupo Roupa Nova se apresenta gratuitamente nesta quarta-feira (14) na Praça da Matriz, em Lauro de Freitas, às 21h30, como parte das homenagens ao Padroeiro Santo Amaro de Ipitanga. Em duas horas de apresentação, a banda promete relembrar grandes sucessos, como "Whisky a Go-go", "Dona" e "A Viagem". A homenagem, que acontece há 407 anos, este ano tem uma ampla programação, que se estende até quinta-feira (15), dia do padroeiro, com uma missa solene, além de dois shows de música gospel, com Irmã Carol e Cassiano, às 20h.

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O Réveillon já passou, mas a programação gratuita para celebrar o Ano-Novo segue em Salvador. Hoje, a partir das 18h, na Barra, começa o Festival Salvador Jazz, evento promovido pela prefeitura e totalmente dedicado à música instrumental. As atrações do primeiro dia são o bandolinista carioca Hamilton de Holanda, o guitarrista mineiro Toninho Horta e os grupos baianos Garagem e o I.F.Á. Afrobeat.

“É importante quebrar paradigmas. A ideia é sair da história da música cantada e partir para mostrar a diversidade de Salvador”, afirma o curador do Salvador Jazz e diretor comercial da Orkestra Rumpilezz, Alex Pinto, 38 anos.

“Adoro Salvador, é um lugar que tenho um carinho muito grande. Conseguir inserir esse tipo de música no dia a dia das pessoas é uma iniciativa fantástica. Fico orgulhoso”, elogia o bandolinista Hamilton de Holanda, 38. Em sua apresentação, Hamilton aposta em músicas inéditas, releituras e “muita improvisação”. Ele estará acompanhado por André Vasconcelos (contrabaixo) e Thiago da Serrinha (percussão).

Em seguida, a atração é o guitarrista Toninho Horta. Internacionalmente reconhecido, Horta mostra clássicos extraídos de seus 26 discos. “Acho ótimo trazer uma música diferente para o Farol, acostumado com trios elétricos. A cidade precisa de eventos que tragam diversidade”, diz Rowney Scott, 50, que integra o Garagem, primeira atração do dia. Por fim, o público confere o afrobeat da banda I.F.Á.

Amanhã, também às 19h, a festa reúne o violonista gaúcho Yamandu Costa, o multi-instrumentista alagoano Hermeto Pascoal, o pianista mineiro Wagner Tiso e a Sanbone Pagode Orquestra, representante da Bahia.

“Acho maravilhoso. A gente fica numa felicidade total de reunir essa turma toda. Nessa coisa que a gente ama fazer. É muito bom começar o ano dessa forma”, diz Yamandu, 34, que se apresenta com o violão 7 cordas e comanda um trio de violões e acordeom formado por Arthur Bonilla, Guto Wirtti e Samuel Costa.

Outra atração do sábado é Hermeto Pascoal, que vem acompanhado de banda e da mulher, a cantora Aline Morena, e criará o repertório na hora, com participação do público. Para encerrar o segundo dia do Salvador Jazz, a Sanbone Pagode Orquestra mostra seu pagode com arranjo sinfônico, com regência do maestro Hugo Sanbone.

Instrumental
Domingo, último dia do evento, as atrações são Ed Motta, Orkestra Rumpilezz e Núcleo de Orquestras Juvenis e Infantis da Bahia (Neojiba). No show Ed Motta Instrumental, o cantor usa seu marcante timbre como uma espécie de instrumento, que o acompanha no teclado.

“Ed Motta participou do nosso disco, temos uma ligação muito próxima. Vamos fazer uma surpresa juntos na noite”, entrega o maestro Letieres Leite, 55, que também se apresenta, na sequência, com a Orkestra Rumpilezz.

O grupo de metais e percussão do Neojiba completa a noite de despedida. Composições de Shostakovich (1906-1975), Moraes Moreira e Gonzagão (1912-1989) estão no repertório do programa, regido pelo maestro Helder Passinho Jr.

Outros palcos
Além dos shows principais, a programação do Festival conta com 32 artistas de música, teatro e dança, que se apresentam em três palcos menores, das 14h às 18h. Mas quem quiser chegar mais cedo poderá curtir performances na rua, a partir das 10h.

O secretário de Desenvolvimento, Turismo e Cultura Guiherme Bellintani considera que o festival tem perfil complementar aos outros produtos do Réveillon 2015. “Apesar de consagrados, são artistas menos comerciais, menos conhecidos do grande público. É um festival quase independente”, afirma Bellintani, que vê grandes possibilidade de manter o projeto nos próximos anos. “Se der certo, vamos manter, sim. Tem tudo pra virar um projeto autônomo”, diz.

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Quinta, 06 Novembro 2014 21:00

Confraria III, o bar do "seu" Treme Treme

Confraria III, o bar do "seu" Treme Treme
Depois que Salomão Caetano do Rosário, o Saló Mão de Luva, ameaçou matar Demetrinho, o pai resolveu fechar o bar, pegar dona Conchita e a filha e levar todo mundo de volta para a Galícia.

Demetrinho, na ingenuidade dos 18 anos ainda incompletos, olhos verdes, garoto bonito, malhado, era cortejado por todas as mulheres da Ruy Barbosa, Padre Vieira e adjacências. Quando não estava na escola, passava o tempo atrás do balcão no bar ajudando o pai. Bom menino, sorriso permanente na cara imberbe, gozava da simpatia e consideração geral dos clientes, malandros, putas, policiais que filavam a bóia e, claro, da nossa confraria à qual dedicava atenção especial, no que, aliás, imitava o pai em gentileza, sempre prestativo.
Ocorre que mulher é o cão de saias, gosta de carne nova, já dizia Demetrius, preocupado com as incursões fortuitas do menino pelas camas cheias de chato e banheiros sujos da vizinhança. Apesar de se esforçar para ser discreto e ficar de bico fechado por determinação do pai, vez por outra Demetrinho deixava escapar uma inconfidência sobre alguma criatura sentada às mesas ao nosso derredor.
- Aquela com o fortão ali é Celeste. Gostosa, já peguei. E tem mais, foi ela que me cantou.
Ato contínuo aparece Demetrius.
- Venha cá me erman, arrastou o menino pela orelha até uma distância segura.
- Cê quer se foder me erman? Fala besteira e ainda fala alto pro bar inteiro ouvir.
- Não senhor, não falei de ninguém, estava falando baixinho aqui com o pessoal, tão baixo que o único que ouviu e olhou foi Victor, os outros nem ligaram.
- Baixinho uma porra me erman, Pepe ouviu e veio me avisar. Sabe quem é aquele sarará? É campeão de queda de braço no Ocê é que Sabe (bar de Jaime radialista, na Rua Ruy Barbosa). É gente ruim, tem a natureza ruim. Se ele ouve isso pode até te matar. Celeste é a nega dele, a única que ele dá proteção, as outras só usam o nome dele para se defender.

Palavra dita, sina cumprida.

Mão de Luva soube da história, Celeste negou, chorou, gemeu, jurou que não. É sabido que mulher-dama não bota chifres, mas os que ele carregava na testa caíram no domínio da malandragem local. Precisava lavar a honra e a respeitabilidade de cafetão. Que mulher ia querer pagar para usar o nome de um corno como garantia de segurança no trabalho? As leis da rua não estão escritas, mas costumam ser cruéis. E corno ninguém respeita. Geralmente quem paga pelo crime é a mulher e não o pé de pano. Só que Saló era apaixonado por Celeste. No dia que soube da galhada, vagueou e bebeu a noite inteira de cara amarrada, sem falar, sem olhar nos olhos de ninguém. Amanheceu na calçada da Caixa Econômica defronte ao bar.

Má sorte de Demetrius, muita sorte de Demetrinho. Alguém o ouviu resmungar e sentenciar o destino do menino: “Vai morrer quando aparecer hoje. Se ele não vier, descubro onde mora e vou atrás”.

Ao chegar para abrir o estabelecimento, por volta das 8 horas, Demetrius foi avisado: ainda bêbado e com cara de ontem, Saló rondava por perto e jurando de morte Demetrinho.

Assustado, entrou e fechou atrás de si a porta de garagem, em vez de deixá-la à meia altura como sempre fazia. O coração batia descontrolado, parecia querer sair do peito. Atarantado, deixou de lado a primeira tarefa diária de separar as carnes do freezer, o peixe e o feijão para a chegada de Maria Preta, a cozinheira. Correu ao telefone e começou a ligar para os amigos da polícia. Só conseguiu falar com Manoel Baleiro, comissário que vivia permanentemente de licença saúde e vendia munição a quem tinha revólver calibre 38. Não gostou do que ouviu do outro lado da linha, a preocupação aumentou.

- Isso não é caso de polícia porque o elemento não fez nada, é só suposição de ameaça. Conselho de amigo, o melhor é você desaparecer com a madame e os meninos por uns dias enquanto a gente fica de olho. Ele tem ficha, se der sopa a gente pega e aí vocês voltam. Ação da polícia agora só se Demetrinho fosse baleado, tomasse porrada, ou sofresse algum tipo de agressão, é o que diz o código.

O sumiço de Demetrius e o fechamento do bar geraram uma crise sem precedentes na existência da confraria, que nem a ditadura nos seus anos mais duros conseguira. A turma ficou sem local de encontro, até que Victor lembrou-se do bar do “seu” Treme-Treme aonde ele, Paolo, Bel e alguns mais renitentes terminavam a noite depois que Demetrius fechava. Boteco em que, antes da meia noite, ninguém era mandado embora.

“Seu” Treme-Treme, também espanhol e civilmente registrado na Galícia com o nome de Basílio, já tinha uma certa idade, calculávamos mais de 70 anos, e aparentemente sofria do mal de Parkinson. Baixo, atarracado, ainda forte, cabelos grisalhos encarapinhados, cara de poucos amigos, falava mais embolado que Demetrius. Sabia-se que lutara na guerra civil espanhola, portanto deveria ser herói. Só havia dúvidas em qual trincheira pelejara, se na de Franco ou na dos republicanos.

O bar ficava na Rua Carlos Gomes, entre a Tuiuti, ladeira que desce para a Avenida do Contorno, e o Quartel dos Aflitos, em uma região mais perigosa que o nosso habitat original no coração da Rua da Ajuda. Era um ponto estratégico com várias rotas de fuga. De um lado, descidas por ruelas na direção da Cidade Baixa. Do outro lado ficava o convento das Mercês, na Avenida Sete, em cujas laterais haviam duas ou três saídas para o Vale dos Barris. Tem até uma delegacia de polícia no vale, mas quem é que fica na porta de delegacia para correr atrás de batedor de carteira que por ali passe chispado?

A nossa temporada no “seu” Treme-Treme era por assim dizer uma proteção da chuva, temporária, enquanto tomássemos novo rumo, porque o local era um típico e acanhado pé sujo, bem longe do conforto do amplo espaço oferecido por Demetrius. Um vão único de quatro metros de largura, por sete de frente a fundo, abrigando três mesas espremidas entre o balcão e a parede do lado esquerdo de quem entra, em no máximo um metro e meio de largura.

A confraria foi se desfazendo, os encontros escasseando. O perigo maior do bar é que só o atacavam bandidos amadores, pés de chinelo. Assaltavam, às vezes, para roubar as lingüiças fritas e a farofa, que ficavam sobre o balcão, e os trocados da féria da noite de seu Treme-Treme. A féria do dia ele guardava em casa, pois morava com a mulher no andar de cima. O bar, batizado de Frutibel, não tinha prestígio. Entre a clientela não havia policiais, mulheres, nem travestis, nem malandros. Até o final da tarde era ponto de camelôs da Avenida Sete, frentistas de um posto de combustíveis que fica na esquina defronte ao quartel PM, comerciários do quarteirão e passantes. Noite adentro só os bêbados, a ralé noturna em busca de grana, um trago, um xaro, uma cafungada em cola de sapateiro. Completavam o quadro de freqüência trabalhadores tardiços na volta ao lar, garçons das lanchonetes e restaurantes do Largo Dois de Julho e a bandidagem amadora e perigosa. No meio dessa patuléia, nós os incautos.

O dono do bar preferia mantê-lo aberto, mesmo sem clientes. Era melhor do que ficar em casa. “Não tenho paciência, não gosto de não fazer nada. Aqui, vejo o povo passar, distrai enquanto cato o feijão de amanhã”, respondia sempre que perguntávamos, depois de um ataque, ou alguma contrariedade no balcão: “Por que não fecha e sobe para descansar”?

Não demorou muito, em um desses assaltos foi selado o nosso afastamento definitivo do botequim e a dissolução da confraria por um bom par de anos. Passava da meia noite e, além do proprietário do estabelecimento e de Vangogue, o auxiliar de cozinha, os únicos clientes da casa eram Jorginho, Victor, Bel, Teixeirinha e Paolo tomando a quinta saideira.

Aí eles chegaram. Dois molecotes de não mais que 15 anos, um deles um mulato alto e forte, o outro, que estava com o 38, nanico e fracote, que parecia comandar a dupla, ficou na porta e arrochou o pessoal. O desarmado encostou no balcão e pediu a grana do caixa, quer dizer do bolso da calça de “seu” Treme-Treme. O pivete do revólver gritou: “Passa o dinheiro e os redondo”.

O que dois baratos e bons velho oito com gelo, mais uns copos de cerveja, não fazem para elevar a auto-estima e a coragem de um cidadão.
- Amigo, nós somos jornalistas, estamos do seu lado. Nós combatemos essa sociedade pernóstica e infecta que tanto malefício causa às camadas menos favorecidas, redargüiu, depois de levantar de chofre expondo-se a um sério risco de ser baleado, o tribuno Jorginho, acostumado a grandes tertúlias oratórias em Cachoeira, a heróica cidade do Recôncavo, abençoada pelo Rio Paraguaçu.

O jovem, surpreendido pela reação e sem entender direito o que o orador bradava, comandou a retirada.
- Pinota, pinota, vombora que jornalista é uma turma muito lisa.
E os dois caíram fora antes mesmo de Jorginho engatilhar a tréplica.
Saíram correndo, na primeira esquina embicaram para a Avenida Sete, desceram pela esquina do quarteirão das Mercês pela Clóvis Spínola até chegar ao Vale dos Barris. Passaram apressados pela porta da 1ª Delegacia e se malocaram em um terreno baldio ao lado para dividir os 32 reais da féria noturna.

No bar, já elevados à categoria de heróis por Vangogue, a quem faltava o pedaço de uma orelha e não parava de elogiar o sangue frio e a eloqüência de Jorginho, os confrades comemoravam o acerto de manter os relógios nos bolsos sempre que freqüentavam o local. Na oitava saideira, decidiram ressarcir o prejuízo do espanhol antes de ir embora.

Antes porém, intuindo o que seria a despedida definitiva do bar, decisão que foi tomada nos dias seguintes, Victor tomou a palavra e filosofou.
- Vejam o que faz a ditadura. Olha o nível desses ladrões. Meninos abandonados pela vida, analfabetos, esfomeados, movidos a cola de sapateiro e cachaça, com uma arma na mão. Essa milicada não tem noção do mal que faz a este país. Este é o retrato da nossa realidade social. E da nossa própria decadência, porque em Demetrius tínhamos segurança, os ladrões eram malandros simpáticos e policiais corruptos. Ninguém ameaçava ninguém. Aqui eles roubam ovo cozido e lingüiça do balcão. Realmente, uma decadência.

Ninguém contestou, apenas um comentário de Vangogue.
- Falou bonito.
- Você sabe o que é ditadura Vangogue?
- Não senhor, mas já sei que faz mal.
P.S.: “Seu” Treme-Treme morreu oito meses depois, baleado durante mais um assalto ao bar.

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Ellen Oléria volta a Salvador, desta vez, para apresentar o show do álbum lançado após vencer a primeira edição do The Voice Brasil. Em entrevista ao Bahia Notícias, Ellen contou sobre sua relação com a Bahia e os artistas baianos, shows internacionais, planos futuros para a carreira, participação no The Voice e também sobre a apresentação na sede do Ilê Aiyê, no encerramento da Semana da Mãe Preta, que acontece neste sábado (27) em Salvador. Confira!

BN: Você já veio fazer show em Salvador em diversas ocasiões: no Festival de Verão, como convidada da Orquestra Rumpilezz, no Carnaval, no Sarau Blackitude... E agora, é convidada do Ilê Aiyê, que tem extrema importância na cultura baiana... Quais são suas expectativas para esta apresentação em especial?

Ellen Oléria: Então, olha só, nosso disco novo, mesmo com a Bahia abraçando a gente há tanto tempo, ainda não conseguimos fazer o show aí na Bahia. Então a gente está voltando com o gás todo. O carro-chefe do show é o disco “Ellen Oléria”, que leva o meu nome. É uma celebração muito grande porque é o nosso primeiro disco lançado por uma grande gravadora, que é a Universal Music no Brasil. A gente está com muito gás porque a gente acabou de chegar. A gente apresentou esse mesmo show em Barcelona, apresentamos em Paris, no norte da Espanha, em Luanda, então chegar à Bahia depois de sentir esse abraço do ‘mundão véio’ é muito gratificante.

BN: Como foram esses shows internacionais que você fez?
EO: Fizemos shows em Barcelona, ficamos no Día de Brasíl de lá. Tinha uma muvuca, numa praça linda pertinho da orla, em Paris nós fomos convidados pela Orquestra do Fubá, que são músicos brasileiros e músicos franceses fazendo experimentações com a música brasileira. Elas tocam forró, funk e me convidaram para chegar com o show do disco novo, então a gente lançou o disco junto com a Orquestra do Fubá. Com o nosso projeto, a gente foi convidado para tocar no Festival de San Mateo, no norte da Espanha. Foi bem bacana, foi lindo o show. Era uma programação com vários palcos, na cidade toda, a gente tocou em uma programação de música brasileira, foi muito bonito o show, a gente foi bem recebido pela imprensa e pelo público de lá. Da nossa passagem por Luanda, trouxe outros frutos, porque em parceria com Kizua Gourgel, que é um artista angolano muito querido. A gente entrou no estúdio e gravamos uma canção pelo projeto Ponte Cultural, que nos convidou para essa ida. Gravamos em estúdio e fizemos, inclusive, uma versão para uma música, que até Djavan gravou, uma música, que é uma música tradicional, cantada em kimbundu. O Felipe Mukenga, que é um artista de lá também, fez uma versão um pouco mais melodiosa. A gente rodou de norte a sul com esse show e agora vamos chegar mais uma vez no Nordeste, desta vez na Bahia querida, amada, adoro ir pra Bahia.

BN: Como é sua relação com a nossa terra, com os artistas e o próprio público daqui? Você é amiga de Nelson Maca...
EO: Nelson Maca é um querido. Inclusive, depois da nossa apresentação aí, a gente vai estar com ele em São Paulo e vamos fazer um Sarau bem bonito lá, falar um pouquinho de literatura divergente e vamos cantar, essa é minha vida mesmo, é o que eu sei fazer. Não só Nelson Maca: eu aprendi a apreciar os sons baianos e sou influenciada por eles. Eu curto muito o som desta nova geração também. Adoro o Baiana System, já vi três shows do Baiana, quando eles vem pra cá pra Brasília e eu não posso ver os shows fico chateada (risos). Eu acho que a gente tem uma conexão bem bacana juntos. Eu adoro a Orquestra Rumpilezz, o Gabi Guedes é um músico que eu admiro demais, adoro ele junto com as percussões e o Leitieres Leite é um querido, ele comandando a massa é a coisa mais linda de ver. E chegar na Bahia através de uma casa que é tão tradicional e que nos inspirou a todos, como o Ilê Aiyê, é uma honra.

BN: O repertório do show vai ser baseado no seu último álbum, mas pode rolar algo fora do script que você pode adiantar pra nós?
EO: Com certeza! Se a gente não passear, não sair um pouco da rotina, a gente fica louca. A rotina vai matar-nos a todos e todas. Vou te contar, eu já sou super fã do Milton Nascimento, é uma referência para nós e além das músicas dele que a gente gravou no disco, a gente vai fazer algumas outras canções dele. Uma delas é “Caxangá”, que eu sou completamente apaixonada. Jorge Bem Jor, além da “Zumbi”, que é uma música que anda conosco também, vamos fazer “Há cinco minutos”, que é uma música muito embalada, muito dançante, que Marisa Monte gravou também. O que mais eu posso dizer? Vamos fazer uma música que Paula Lima gravou que também é maravilhosa, chama-se “Negras Perucas”. A ideia é que o show seja muito dançante, a gente tem momentos mais intimistas, mas com certeza muito pulsante, a ideia é que o show fique pulsando o tempo todo e que as pessoas não parem de se mover e sejam abraçadas pelo embalo do suingue dessa banda, que já está comigo há muito tempo. Sérgio Maciel na bateria, Felipe Guedes no teclado, Sandro de Adão no baixo e no vocal.

BN: Como é sua relação com a questão abraçada pela Semana da Mãe Preta, que homenageia a mulher negra?
EO: Eu acho que chegar para cantar em homenagem a essas mulheres que são tão importantes e determinantes em nossa trajetória é sempre olhar num espelho. A gente está chegando com essa carga, sempre ando emocionada pela estrada carregando as falas da minha mãe, da minha irmã, da minha esposa, das minhas amigas que me cobrem com carinho, me protegendo e chegar na Senzala do Barro Preto para homenagear Mãe Preta é um privilégio, eu estou muito feliz.

BN: Muita gente não sabe que você tem uma carreira de mais de 10 anos na música, que foi bastante premiada e já trabalhou com grandes nomes. Eu gostaria de saber qual é a diferença da Ellen antes do The Voice e da Ellen pós-reality. Qual foi o impacto de sair vencedora de um programa com tanta repercussão em sua carreira e como isso mexeu em você como artista?
EO: Nossa vida é o trabalho, já disse o querido cearense Fagner, quando ele fala que sem o trabalho a pessoa não tem honra. O nosso sonho é o nosso trabalho. A gente vem trabalhando bastante, eu trabalho desde muito cedinho e a música se tornou minha profissão muito cedo também, com 17 anos. Acontece algo muito formidável, por isso eu tenho um coração grato, porque a música foi muito generosa comigo, me levou pra muitos lugares, eu conheci muitos pedacinhos de chão levada pela música. Eu acho que esse abraço que eu recebi da música é um abraço que eu dei nela também. Eu me agarrei na música e ela não me largou. Depois de 13, 14 anos de carreira poder dizer que fui querida na minha cidade, o que é raro, geralmente os artistas tem que sair da sua cidade natal para poder mostrar sua música, porque santo de casa não faz milagre. Eu não posso dizer isso nunca porque Brasília me recebeu com muito carinho, desde sempre, desde os festivais universitários, dos bares, casas noturnas e nos teatros daqui. Chegar a uma super exposição como foi o The Voice Brasil, que é um programa de visibilidade, é um palco fantástico, com uma iluminação maravilhosa, com uma equipe de figurinistas e maquiadores incríveis, com uma direção criteriosa e envolvida com o projeto, apaixonada pelo projeto que é o The Voice Brasil, foi muito fera mesmo. Eu acho que fiz uma boa escolha na minha vida quando decidi que ia participar disso, porque eu fui apresentada para milhões e milhões de brasileiros e brasileiras. Quando eu cheguei em Angola, soube que o The Voice Brasil fez bastante sucesso por lá também, fiquei reconhecida como a voz do Brasil lá, sou muito grata por essa trajetória e pelas bênçãos que neste palco do The Voice Brasil.

BN: Você foi vencedora do programa, bem como o Sam Alves, na segunda edição. Ambos têm perfis muito distintos musicalmente. O que você acha que é preciso para conquistar um programa como esses? Por que o público abraçou seu projeto, em sua opinião?

EO: Eu acho que tem duas coisas muito importantes. Uma delas é uma verdade. Quem canta precisa cantar algo com o coração de fato. As pessoas sentem isso e respondem a isso. Eu acho que não somos os únicos a fazer desta maneira, eu e o Sam. Eu acredito que o programa é um sucesso, porque apresenta muitas versões desta fórmula: verdade no coração, por parte dos participantes, que são de altíssimo nível, que são grandes profissionais, o que transforma a mostra em um grande espetáculo mesmo. Não é só uma mostra competitiva, é um grande espetáculo onde em ganha, antes de todos nós, é o público. Outra coisa que não pode faltar para um vitorioso do The Voice Brasil é um mistério. Porque a música age com mistério, não existe uma fórmula para a gente seguir, acertada. A gente tem sorte, a gente tem indicação, uma alta performance, isso não adianta nada. Quem vai agir é o mistério que envolve a canção. O que é que tem em uma canção que faz você escutar e ficar arrepiado? Pode ser a letra da música, o groove, os timbres dos instrumentos, super bem alinhados, um arranjo formidável, pode ser uma voz com uma extensão incrível ou pode ser o mistério. Porque se não fosse isso, aquela voz que você escuta naquela esquina, sem uma grande potência de som, sem uma pessoa cantando um português que contém na gramática normativa, ela só tá cantando te emociona. Ou aquela pessoa que canta uma coisa que você não consegue entender o que é, você só sabe se emocionar, eu acho que isso é o mistério da música.

BN: Quais foram os frutos do The Voice e como é sua relação Carlinhos Brown?
EO: O The Voice não gera frutos, quem gera frutos são as pessoas que participam da programação. Os frutos são nossos, vem do trabalho. Sobre os encontros, o Brown sempre foi pra mim, mesmo antes de encontrá-lo pessoalmente, não só na sua performance como artista, nas suas composições, nas suas produções, mas também no jeito dele se articular com a comunidade dele, eu acho muito bonito a responsabilidade social que ele tem de devolver pros lugares que recebem ele com muitas ações. Isso eu sempre tomei pra mim também, acho que ele é uma inspiração neste sentido. Brown é uma gracinha também, toda vez que eu encontro com ele é alto astral. Boa energia, boa vibração e muito axé.

BN: Você também tem uma veia compositora muito forte. Podemos esperar composições suas, futuramente, em algum novo trabalho? O que você vem preparando para seus fãs?
EO: Com certeza. Tenho escrito... Escrever na verdade é parte do pacote que eu ganhei (risos). Eu tô escrevendo bastante, compus muito, coisas mais antigas que eu fiz e que acabaram não tendo muito espaço ainda. Demorei a me identificar como compositora, mas depois que o fiz estou bem segura disso. Estou compondo bastante e com certeza nos próximos projetos as pessoas vão encontrar mais letras assinadas por mim, assim como no primeiro disco e no DVD ao vivo [trabalhos independentes lançados antes do The Voice], esses discos são basicamente autorais.

BN: Deixa um recado para os soteropolitanos que vão te prestigiar no seu show.
EO: Primeiro quero agradecer a você por abrir essa janela para falar com o público soteropolitano, com o povo da Bahia. Quero agradecer ao povo da Bahia por me abraçar e por me envolver com carinho, por receber a mim, a minha canção, a minha equipe, com o carinho que só vocês têm com a gente. Por isso é tão especial voltar praí. Agradeço demais e convido vocês para comparecem no sábado, lá na Senzala do Barro Preto, lá no Curuzu na casa do Ilê Aiyê. Vai ser uma festa muito bonita em homenagem a essas mulheres guerreiras e nós somos uma delas.

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