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Avanço da tecnologia fez com que a população acomodasse o cérebro, diz especialista

Avanço da tecnologia fez com que a população acomodasse o cérebro, diz especialista

Ao aprender uma nova atividade, o cérebro humano realiza um esforço maior ou menor para desenvolvê-la. No entanto, com o passar do tempo, o cérebro se acostuma e passa a funcionar em uma espécie de “piloto automático”.

Por conta disso, o número de conexões entre os neurônios cerebrais sofre uma redução considerável, já que não é mais necessário o mesmo esforço anterior. Com o objetivo de ampliar esse número de conexões e desenvolver uma maior capacidade cognitiva, o método Supera trabalha com a chamada ginástica cerebral.

Criado em São José dos Campos, em São Paulo, pelo engenheiro Antônio Carlos Guarini Perpétuo, o método utiliza o ábaco como principal ferramenta de desenvolvimento de suas atividades. Com 130 unidades no Brasil, o Supera ganhou recentemente sua segunda escola em Salvador. A psicóloga Neusa Marques e a pedagoga Sônia Figueiredo explicaram ao Bahia Notícias o funcionamento do método e a importância de manter o cérebro ativo.

Em que consiste o método de ginástica cerebral?

Sônia Figueiredo - Ginástica para o cérebro é um exercício dos neurônios, no qual a gente trabalha o desenvolvimento cognitivo. Cognição é um processo de aprendizado que se dá no cérebro, onde existem várias memórias. A gente trabalha para isso com várias ferramentas, como jogos concretos, jogos online que servem de estimulação para essas conexões neurais. A gente usa também não só os jogos, mas dinâmicas de grupo e neuróbica, que são exercícios para esses neurônios se conectarem de uma forma mais saudável ampliando essas conexões de comunicação do cérebro. Você melhora sua memória concentração, capacidade de raciocínio.

A partir de que idade é recomendado esse exercício para o cérebro?

Neusa Marques - Nós recebemos no Supera a partir da chamada alfabetização aritmética. Não precisa estar necessariamente alfabetizado no sentido da aquisição da leitura, mas alfabetizado aritmeticamente, ou seja, a criança já está compreendendo que existe um processo de adição e subtração dos algarismos. Então é a partir dos seis anos até sem limite. Na nossa unidade, nós já temos alunos beirando os 90 anos.

Há diferença nas atividades para cada idade?

NM - O processo do Supera, embora esteja associado a pequenos grupos pela necessidade de socialização para motivação dos alunos, tem ritmo individualizado. Cada aluno passa por um processo de avaliação e, a partir do seu resultado, ele recebe um kit individualizado. Existem grupos, divididos por faixa etária, com no máximo 12 pessoas, mediado por um profissional. O aluno está em grupo, mas o processo de desenvolvimento é individualizado.

Quais são as atividades desenvolvidas e as ferramentas utilizadas no método?

SF - Nós utilizamos jogos concretos, como jogos de tabuleiro, desafios. Temos também jogos online, em uma plataforma francesa, que possibilitam ver em que nível ele está. Esses jogos servem para que a pessoa pense antes de agir. Ela aprende a estabelecer estratégias para aquele objetivo que ela quer realizar.

E nós trabalhamos com mediação em sala de aula. Nós temos o mediador, que é psicólogo ou pedagogo com especializações, e ele faz a mediação entre a descoberta que aquele aluno tem com aquele jogo e como ele precisa aplicar na prática do dia-a-dia.

Então nós somos uma escola que não é uma escola formal, trabalhamos com aulas presenciais uma vez na semana com duração de duas horas. Nós temos projetos com duração de 18 meses, projetos aplicados nas escolas e projetos em empresas. O aluno estabelece uma meta e é estimulado o tempo inteiro a ultrapassá-la.

Quanto aos jogos, são utilizados elementos de matemática, português, lógica ou algo semelhante?

NM - Uma aula do Supera trabalha com estímulo à cognição, então trabalha primeiro com raciocínio lógico. O instrumento principal do Supera é o resgate a um instrumento do Oriente, o ábaco, que é um instrumento milenar de cálculo. No Supera, ele não é usado com o objetivo de aprender a calcular, mas de estimular a concentração, o foco e, principalmente, o raciocínio.

Uma boa parte da aula do Supera é o estímulo ao ábaco, pois utiliza muito a concentração. Também trabalhamos com exercícios de raciocínio, com jogos. O pilar básico é da neuroplasticidade, que trabalha com novidade, variedade e desafio crescente. Toda aula do Supera é baseada nesse pilar, então vai ter sempre novidade, variedade e desafio crescente, elementos que não encontramos no dia-a-dia.

A gente encontra a novidade, mas cai no hábito e deixa de ser um desafio crescente. Quando se aprende a dirigir, por exemplo, é um desafio para o cérebro, mas depois acontece no “piloto automático”. Essa é a vantagem de participar de uma ginástica para o cérebro processual. Neurocientistas programaram o método para nunca deixar o aluno na zona de conforto.

Como surgiu este método?

SF - Surgiu com um engenheiro do ITA [Instituto Tecnológico de Aeronáutica], que estava com um problema, há uns 15 anos, com o filho dele. Ele tinha problemas de concentração na escola. Ele procurou especialistas na tentativa que o filho se concentrasse mais nos estudos e obtivesse melhores notas, mas foi um insucesso. Ele então buscou outras alternativas e encontrou, na internet, o ábaco. Na Ásia como um todo ele é muito utilizado.

Ele começou a aplicar aquele instrumento no filho e observou que o progresso era constante. Pouco tempo depois, ele já estava mais concentrado e com as notas bem melhores. Os pais de colegas recorreram a Antônio Carlos como socorro, então ele começou a fazer isso na garagem de casa. O negócio ampliou e, hoje, existem 130 franquias no Brasil.

Qual a principal diferença entre este método e outros métodos de ginástica cerebral?

NM - Outros métodos são conteudistas, trabalham com reforço escolar, memorização, repetição. O Supera trabalha com o estímulo ao aprender. Nós não trabalhamos com conteúdo, mas com a capacidade de aprender. O resultado do Supera é a ideia de que se pode aprender qualquer coisa. Ele aprende a ter mais foco, mais habilidade de raciocínio e mais confiança.

A senhora falou sobre as atividades diárias, que acabam se tornando mecânicas. Quais são os principais malefícios para o cérebro que podem ser encontrados atualmente?

NM - Eu acho que foi um benefício que se tornou malefício: a tecnologia. Nós conseguimos um grande benefício a nosso favor, porque fez com que tivéssemos uma série de serviços que, anteriormente, deveríamos pensar para conseguir, estivessem à nossa disposição. Hoje temos carro automático, uma televisão digital.

A gente hoje pensa muito pouco. Com isso, a gente não está se dando conta de como estamos pensando pouco, então acomodamos nosso cérebro. Se for comparar como o cérebro pensa pouco quando está vendo televisão e quando está escrevendo um texto, é como se fosse uma sala com uma lâmpada acesa e outra com milhões de lâmpadas acesas.

SF - Nós estamos vivendo este século, que é o século inclusive da neurociência. Anteriormente, o mundo era mais linear. Hoje a gente vive em rede, e isso mudou muito as conexões no cérebro. É como se a gente se sentisse cansado. Existe um mito que diz que só usamos 30% ou 40% da nossa capacidade cerebral, mas não é verdade.

Nós usamos nosso cérebro inteiro, fazemos conexões com ele inteiro. Mas nós temos um potencial de conexão muito maior que o usado hoje. Com esses exercícios, esses mapas criam conexões novas. Eles possibilitam que a pessoa exercite seu cérebro para fazer conexões saudáveis para prevenir, como reserva, ou até para tratar uma doença.

Algumas pessoas nos procuram por conta da necessidade de foco para atividades diárias, demências, lesões. Nós não somos clínica, somos uma escola, então as pessoas aprendem a fazer conexões, aprendem a pensar antes de agir.

No caso de idosos e pessoas com demências, é possível fazer com que conexões perdidas voltem a se estabelecer?

SF - Sim e não. Os idosos, por exemplo, em caso de demência, têm áreas comprometidas do cérebro que não se recompõem. A gente tem uma plasticidade cerebral que cria conexões novas de neurônios para buscar essas conexões que foram perdidas com essa desconexão, uma atrofia, uma isquemia.

Às vezes, é possível recuperar essas memórias, outras não. O envelhecimento do corpo se dá como um todo, então o cérebro também. Mas é como uma academia: se você exercita os músculos, eles vão se fortalecer. Essa metodologia é um fortalecimento dos neurônios e toda a parte cognitiva do cérebro.

É possível fazer com que sejam criadas novas conexões. A gente nasce com 86 bilhões de neurônios no cérebro, além daqueles espalhados pelo corpo, e perdemos vários logo na primeira infância e ao longo da vida. No entanto, a neurociência descobriu que podem nascer novos neurônios na velhice.

Muito poucos, mas há essa possibilidade. Mesmo assim, o objetivo nem é fazer com que nasçam novos neurônios, mas novas conexões. Nós temos capacidade de fazer 100 mil conexões por neurônio, mas só fazemos cerca de 10 mil. Existe uma reserva de conexões que podem ser estimuladas para criar ou buscar memórias.

NM - É como se um caminho estivesse interrompido e criássemos um novo caminho.

Há casos de pessoas com demências como Alzheimer que tiveram uma melhora significativa?

SF - Sim, nós temos alguns casos no Supera. O Alzheimer é uma demência muito comum. As pessoas estão envelhecendo mais hoje em dia. Anteriormente, quando a pessoa começava a esquecer as coisas, diziam que ela estava ficando “gagá”. Hoje existem instrumentos que mostram como o cérebro funciona.

No caso das demências, a gente recebe alunos com grau um e grau dois, porque comprometimento do cérebro não é tão grande, então é possível melhorar muito o resultado. No caso de graus mais elevados, são casos clínicos.

Fonte: Bahia Notícias

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